domingo, 29 de abril de 2012

(...)lhe dá a perspectiva de levar diversas vidas ao mesmo tempo(...)



  "(...) as ridículas aventuras em que se meteu; sua riqueza ou sua pobreza para ele não valem nada, quanto a isso, continua recém-nascido, e quanto à aprovação de sua consciência moral, admito que lhe é indiferente. Se conservar alguma lucidez, não poderá se não recordar-se de sua infância, que lhe parecerá repleta de encantos, por mais massacrada que tenha sido com o desvelo dos ensinamentos.
  

  Aí, a ausência de qualquer rigorismo conhecido lhe dá a perspectiva de levar diversas vidas ao mesmo tempo; ele se agarra a essa ilusão; só quer reconhecer a facilidade momentânea, extrema de todas as coisas. Todas as manhãs, crianças saem de casa sem inquietação. Está tudo perto, as piores condições materiais são excelentes. Os bosques são claros ou escuros, nunca se vai dormir.
  

  Mas é verdade que não se pode ir tão longe, não é uma questão de distância apenas. Acumulam-se as ameaças, desiste-se, abandona-se uma parte da posição a conquistar. Esta imaginação que não admitia limites, agora, só se lhe permite atuar segundo as leis de uma utilidade arbitrária;  ele é incapaz de assumir por muito tempo esse papel inferior, e quando chegar ao vigésimo ano prefere, em geral, abandonar o homem ao seu destino sem luz."
(Retirado de "Manifesto Surrealista", André Breton)

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