E eu estava mais uma vez voando sobre as nuvens. Lá em cima
a atmosfera não é tão densa quanto aqui na troposfera, o céu é completamente
azul e faz um frio de doer à espinha; não a pessoas falando, nenhum som que perturbe,
apenas você ouvindo a si mesmo. Eu gritava sem parar, por alguns instantes
acreditei que poderia ter gritado mais alto que minha dor, mas era completamente
inútil, ela continuava me atormentando e disso eu sabia que não poderia fugir.
Eu estava livre de tudo e de todos, lá em cima conseguia ver
belos campos verdes e um mar calmo e azul. Por alguns instantes senti a brisa
quente acariciar o meu rosto e o cheiro de grama verde adentrar por minhas
narinas. Mas eu sabia, mesmo não sendo tão perceptível daquela altura, lá embaixo
o caos reinava e os sinais de civilização estavam cravados, a guerra, o horror,
toda alienação e desespero; tudo aquilo fazia meu estomago doer. Eu me perguntava
como duas coisas tão distintas poderiam coexistir: a paz natural e o ódio humano,
o amor artificializado em guerra.
Eu precisava daquele tempo diário e daquela sensação de
liberdade. Todos os dias eu subia até não ouvir mais nada apenas a mim mesmo e
minha consciência sussurrando em meu ouvido: “Vá mais alto, você pode!”. Sim eu
posso! Mas algo lá embaixo me impede, algo muito forte faz com que eu fique...